"O SUS é um sistema muito amplo e preparado"
27/07/2016 - 19:15
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Na cadeira de ministro da Saúde há dois meses e meio, desde que Dilma Rousseff foi afastada e Michel Temer ascendeu como presidente interino, Ricardo Barros (PP-PR) trabalha com o discurso da eficiência. É o caminho indicado pelo ministro para tentar melhorar o serviço prestado aos brasileiros, diante de um cenário com um governo que rema para administrar seu rombo fiscal.

Engenheiro Civil, ex-prefeito de Maringá (PR) e com cinco mandatos consecutivos de deputado federal, Barros revisa contratos, negocia redução de preços de medicamentos e corta cargos para tentar equilibrar as contas da Saúde sem prejudicar os atendimentos. Na conversa de 25 minutos que teve com a reportagem, em seu gabinete em Brasília, afirmou que o Sistema Único de Saúde (SUS) não tende a ter redução.

Confira os principais trechos.

No primeiro semestre de 2016, 910 mil pessoas deixaram os planos de saúde. Devem, provavelmente, recorrer ao SUS. O sistema tem condições de atender o acréscimo na demanda?
Haverá, eventualmente, uma demora maior em um ou outro atendimento, mas nós temos condições de atender. O SUS é um sistema muito amplo e preparado. A queda nos planos é vinculada aos empregos que as pessoas perderam. É uma situação de duplo prejuízo. Nós temos de dar cobertura, e o SUS está pronto para atender as pessoas.

As reclamações quanto aos serviços prestados pelos planos de saúde seguem altas. Como melhorar?
O Procon e a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) são os responsáveis pela fiscalização dos atendimentos dos planos. A orientação é cobrar qualidade e o cumprimento do que está estabelecido em cada contrato.

Está em discussão no ministério repensar a universalização do SUS?
Essa discussão não existe. O SUS só tem crescido desde que foi criado. Nós discutimos a incorporação de novas tecnologias, tratamentos, procedimentos. O SUS não tende a ter redução.

A PEC do teto do gasto público pode reduzir o investimento na saúde?
Não vejo que ela (a PEC) prejudique a saúde. Se você ler o texto atentamente, vai perceber que ela ressalva os recursos da saúde e, no sentido da interpretação literal, até amplia.

Para o equilíbrio financeiro do SUS no longo prazo é preciso aumentar arrecadação, via impostos, ou reduzir despesas por meio de cortes de serviços?
Como nós temos um processo de judicialização muito amplo na saúde, a redução de serviços não está no nosso radar. O que está no nosso radar é melhorar a eficiência do gasto dos recursos que já temos. É essa melhoria de gestão dos recursos que poderá ampliar atendimentos.

O que o senhor implementou de mudança na gestão?
Temos eliminado determinadas ações que não produziam resultados efetivos para o ministério, renegociamos contratos e reduzimos preços. Agimos de forma muito firme na compra de medicamentos, com redução de preços mesmo daqueles que têm fornecedor único e que são patenteados. Também cortamos cargos aqui no ministério.

Hospitais filantrópicos reclamam dos valores da tabela SUS. No atual cenário do país, é possível reajustar os preços ou a meta é apenas manter os pagamentos em dia?
Estamos mantendo os pagamentos em dia, já recuperamos o contingenciamento que havia sobre o orçamento de 2016. Não temos recursos para novos credenciamentos, por isso teremos de fazer um esforço junto à área econômica. A reclamação do reajuste da tabela é legítima. Hoje, 60% do nosso credenciamento é tabela SUS e 40% são incentivos, que têm valores mais atualizados. As filantrópicas têm por missão fazer um equilíbrio atendendo 60% SUS e 40% convênios, usando o superávit dos atendimentos de convênio para equilibrar o déficit do SUS. As filantrópicas bem-sucedidas estão nessa linha e mantêm contas em ordem.

A Olimpíada começa na próxima semana, e muitos atletas ainda falam do receio de contrair o zika vírus. A situação está sob controle?
Estamos respaldados pelo Comitê Olímpico Internacional e pela Organização Mundial da Saúde, que recomendam a vinda aos Jogos. Pesquisa da Universidade de Cambridge (Reino Unido) diz que o risco de um dos 500 mil turistas que devem vir ao Brasil pegar zika é de menos de um para cada 500 mil pessoas. Isso corrobora os dados de dengue na Copa do Mundo: de 1,4 bilhão de turistas estrangeiros, só três pegaram dengue.

Dados do Ministério da Saúde mostram que quatro em cada 10 pacientes só conseguem começar o tratamento de câncer após o prazo legal até 60 dias depois do diagnóstico. É possível melhorar a estatística?
Temos um plano de expansão da radioterapia com 80 novos aceleradores lineares, que estão em instalação, mais 57 convênios com entidades que instalarão também seus aceleradores lineares. Temos comprado medicamentos para o abastecimento, especialmente os biológicos. Evidentemente, precisamos ampliar a estrutura para que possamos atender todos dentro do prazo que a lei estabeleceu. É um esforço que o ministério está fazendo.

Quando será possível cumprir o prazo estabelecido em lei?
Não temos previsão para isso, porque em algumas regiões, o atendimento está sendo feito no prazo e em outras não. É uma questão de compensar a infraestrutura.

FONTE JORNAL DE SANTA CATARINA
 

FONTE: JORNAL DE SANTA CATARINA
EDIÇÃO: Ley Magalhães