2º LUGAR CONCURSO DE CONTOS
23/10/2016 - 11:13

2º LUGAR CONCURSO DE CONTOS

Dra. Luciana Orsi Ribeiro Pateiro

A traição

João sonhou com a liberdade durante os últimos anos da sua vida e agora que a tinha, não sabia o que fazer. Estes dez últimos anos que passou preso, numa cela apertada, perdeu suas esperanças e o prazer de viver. Sentou-se na praça deserta, naquela manhã de inverno, o vento levava as folhas secas de um lado para outro.
O som do vento fez com que ele fosse mergulhando no seu passado e, conforme recordava-se, suas mãos ficavam trêmulas e o coração acelerava.
João era órgão órfão e chegou àquela cidade para trabalhar como pedreiro, numa grande construtora e logo fez novos amigos. Era um jovem trabalhador e, aos poucos, foi criando raízes na cidade.
Angélica trabalhava numa loja de roupas e tinha uma irmã gêmea chamada àngela, que, embora fosse idêntica na aparência, a personalidade era oposta, usava roupas insinuantes e era vulgar.
O jovem não gostava da cunhada, mas não deixou que isso atrapalhasse seu namoro. Depois de dois anos casados, não tinham filhos e Angélica continuava trabalhando para ajudar o marido. Já tinham um carro e uma casa simples.
A vida do casal seguia calma e feliz, até o dia que dois colegas, depois de muito rodeio, disseram para João prestar mais atenção em sua mulher, pois ela estava agindo de maneira suspeita.
O pedreiro não deu muita importância, mas outro dia, outro amigo contou-lhe a verdade: sua esposa o estava traindo com outro homem. A notícia soou como uma bomba em seus ouvidos. A princípio, não quis acreditar, disse que era calúnia, porém, a semente do ciúme já havia sido plantada e cada dia que passava, o tormento aumentava. Não contou nada à Angélica.
Os colegas disseram que todos os dias à tarde Angélica passava abraçada ao motorista de um carro de luxo preto, bem vestida e de cabelos bem arrumados. Disseram que na rua onde eles sempre passavam havia um bar onde João poderia esperá-los para confirmar a traição.
Angélica notou a mudança do marido, que estava cada vez mais arredio e grosseiro. Cansada de pedir explicações, ficava quieta, triste.
Corroído pelo ciúme, o marido traído mudou não foi trabalhar e não avisou sua esposa. Deu voltas, sem rumo certo. Foi para o bar que os amigos indicaram. Ficou ali, esperando.
Não demorou muito, viu um carro luxuoso preto e, dentro dele, sorridente e feliz estava sua mulher, com uma blusa verde, rosto bem maquiado e o cabelo preso, num bonito penteado.
Não sabe quanto tempo ficou ali parado, deixando que o ódio lhe queimasse por dentro. Seus olhos ardiam com vontade de chorar. Não conseguia pensar em outra coisa, apenas na cena que o fez desabar.
Quando chegou em casa já estava escurecendo. Entrou sem fazer barulho, foi direto para a cozinha. Angélica estava na frente do fogão, preparando o jantar. Quando ela percebeu a presença do marido, sorriu para ele e, como resposta para tanto cinismo, ele a golpeou várias vezes com uma faca bem afiada, seu ódio era tanto, que não conseguiu lhe dar uma chance de se explicar, nem de se defender.
Quando a polícia chegou, ele ainda estava de pé na cozinha, com a faca na mão, murmurando o nome de Angélica, enquanto chorava. Foi então que chegou sua cunhada àngela, com uma blusa verde, maquiada, com um namorado num carro preto luxuoso...

FONTE: Redação
EDIÇÃO: assessoria