1/5 dos bebês com danos por zika não é microcéfalo
30/06/2016 - 22:00
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Uma pesquisa feita por uma equipe de brasileiros e publicada na revista inglesa especializada TheLancet mostra que o diagnóstico de microcefalia não pode considerar apenas o perímetro cefálico da criança. O trabalho revela que um entre cada cinco casos de bebês com a contaminação por zika durante a gestação e com sintomas de danos neurológicos apresentava circunferência da cabeça nos padrões considerados normais.

“Os resultados mostram que nas gestações afetadas pela infecção por zika alguns fetos terão alterações cerebrais e microcefalia, outros terão alterações cerebrais e perímetro cefálico normal e outros não serão afetados”, afirmou o coordenador do trabalho, o professor da Universidade Federal de Pelotas Cesar Victora. “Isso demonstra o quanto as equipes precisam estar atentas. Não apenas durante o parto ou logo depois do nascimento, mas durante o crescimento do bebê”, afirmou o diretor de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Eduardo Hage também integrante do estudo.

O trabalho, o maior envolvendo uma série de casos de suspeita por infecção de zika realizado até o momento, reuniu informações de 5.909 casos suspeitos de microcefalia notificados no País até fevereiro. Com base nos registros, várias características foram analisadas: sexo, idade gestacional, exames de imagem, histórico da mãe e mortalidade.

Desse número geral, foram separados 1.501 casos suspeitos. “A avaliação não foi feita apenas na classificação de casos descartados ou confirmados. Incluímos na análise casos considerados de contaminação muito provável, moderadamente provável e pouco provável”, afirma Victora.

O professor aponta que uma das principais conclusões surgiu da estratégia adotada pelo Ministério da Saúde, no início da epidemia, de fazer uma classificação de casos muito rigorosa. Era considerado suspeito de microcefalia por zika todo bebê que nascesse com perímetro cefálico menor do que 33 centímetros. Não importava o sexo ou se nascia de forma prematura.

Passado o primeiro período, o padrão foi reduzido para 32 centímetros. Agora, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que sejam avaliados também o sexo e em que semana da gestação o parto ocorreu. “Os critérios mais rígidos do início tornaram o sistema muito sensível e nos permitiram avaliar bebês com perímetros cefálicos maiores em que se constataram depois danos neurológicos.”

Mortalidade. Outro ponto considerado de grande relevância por Hage no estudo publicado por seu grupo é mortalidade. “Verificamos que essa taxa em bebês infectados por zika é quatro vezes maior do que adas demais crianças.”

O trabalho indica ainda que os efeitos do zika não ocorrem apenas quando a infecção acontece nos primeiros três meses de gestação. E isso lança uma dúvida sobre as infecções logo após o nascimento do bebê. “O cérebro continua se desenvolvendo mesmo depois do parto. Não sabemos ao certo quais são os efeitos do zika, quando a doença acontece após o nascimento”, observa Victora.

FONTE O ESTADO DE SP

 

FONTE: O Estado de São Paulo
EDIÇÃO: Ley Magalhães